Hoje (sexta-feira, 30
de maio) por acaso, assisti indignado a um comentário irresponsável e
lamentável feito pela apresentadora do programa Ronda Geral, um noticioso da
hora do almoço na TV Tribuna Espírito Santo. Aliás, será que é regra esses
televisivos terem “Geral” no nome?
Foi a primeira vez que
sintonizei no programa e, logo de cara a moça que apresenta, chamada Débora
Moraes, comentava o assassinato de uma recepcionista de 24 anos, curiosamente
também chamada Débora, que ocorreu dentro de uma loja cheia de gente, inclusive
crianças, em Guarapari.
Não bastasse a
barbaridade do crime, vazou para quem quisesse ver – e todos os telejornais
mostraram – as imagens da câmera de segurança da loja, que registrou o momento
em que um adolescente, menor de idade, caminha em direção à vítima e desfere
vários tiros, sem dar à moça a menor chance de defesa. As imagens são muito
fortes, imagine a dor que sentiu a mãe da vítima ao ver a filha morrer daquela
forma.
Pelo que li nos
jornais o assassino compareceu hoje à delegacia para se entregar junto com o
advogado e a apresentadora da TV Tribuna estava dando a notícia quando se voltou
para a câmera – como é comum nesses programas – e falou “agora”... - Eu pensei,
ela não vai fazer isso não, ela também é mulher. - “Me desculpa, mas essa moça
procurou”. Então entrou naquele discurso que beirava o “bem feito”, porque a
sua xará namorou um traficante, assistiu execução de um cara e por aí vai.
Débora é a moça de preto momentos antes de ser assassinada |
Havemos de imaginar
que a Débora do SBT Capixaba teve a boa intenção – e destas, diz o dito
popular, o inferno está cheio – de alertar as famílias e as jovens mais
assanhadinhas para não sair por aí namorando traficante, nem se envolvendo com
a bandidagem porque o fim de quem envereda por esse caminho é o cemitério.
Porém, a verdadeira mensagem passada é da repressão ao gênero feminino: mulher
tem que andar na linha, porque se alguma coisa de ruim acontecer é porque
procurou.
Mensagem muito boa
sabe para quem prezada Débora da “Geral”? Para os traficantes e assassinos
soltos por aí que, aliás, garantem a audiência dos programas de ética duvidosa
como o que você apresenta. Sabe por quê? Porque quando você coloca a culpa de
uma ação pavorosa dessas na vítima, transformando-a em réu, quem sai ganhando é
o advogado de porta de cadeia que está atrás de argumentos para defender seu
cliente.
É inadmissível que num momento
em que toda a sociedade capixaba aumenta o tom do discurso em defesa da mulher (Segundo pesquisa do IPEA somos os Estado mais violento contra mulheres no Brasil), uma
pessoa do próprio gênero vá para a televisão aberta fazer uma afirmação
irresponsável destas. Falo isso por experiência própria, porque, como muitos
sabem, sou filho de uma vítima de assassinato que foi brutalmente denegrida
após o fato e até hoje sofro com uma determinada imagem negativa que se criou
em torno da memória de minha mãe, a colunista do extinto Jornal da Cidade,
Maria Nilce Magalhães.
Prezada Débora, o que será do ainda perseguido e reprimido gênero feminino se mulheres adultas e de boa escolaridade pensarem como você? Vá para o quadro negro e escreva duzentas vezes: “Um assassinato não se justifica de jeito nenhum!” Ninguém tem o direito de tirar uma vida, mesmo dos que fazem, eventualmente, algumas escolhas erradas. Quem tem que ser punido é o criminoso e não a vítima! Desculpa querida, mas você mandou muito mal...