“A ditadura perfeita terá as
aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não
sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e
ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão”.
Aldous Huxley
– catado no Facebook do Grilo Falante
Li um artigo criticando
a atual onda radical conservadora de alguns velhos representantes do BRock, como
Lobão, Roger do “Ultraje a Rigor” e agora os Titãs. Contrariamente ao cara que
escreveu, não vi razão pra surpresa, muito menos para indignação. Quem nasceu
rebelde sem calça não haveria de morrer fazendo algum rastro de sentido, ou
haveria? Quem viveu – muitos deles ainda vivem - sob a égide hedonista da
máxima “drogas, sexo e roquerou”, não pode querer dar a doida do avesso e
clamar pela volta da ditadura? Não só pode, como suspeito que precise. Em
tempo: para que serve a liberdade se não sabemos o que fazer de nossa vida?
Os que estão prontos –
e muito provavelmente ávidos - para o linchamento estético e moral dos nossos velhos
roqueiros não podem esquecer que o artista popular é uma antena que capta e destila
versões elaboradas – na maioria das vezes nem tanto - do senso comum; enquanto
os que vão contra as verdades estabelecidas patinem em uma “impopularidade”
acadêmica. Eis um dos principais dramas da sociedade, a “verdade verdadeira” –
ou mesmo a música verdadeira - sempre existiu e circula livremente por aí, só
que ninguém dá a menor pelota. Digo “sempre” num sentido figurado, mas dessa
verdade já se fala no Mito da Caverna de Platão...
Isso tudo pode nos remeter,
ou não, a um artigo meio “mea culpa” em que o maestro Julio Medaglia descreve seu
desalento com o fim do sonho de igualdade social comunista que acalentara em
alguma altura da vida. Lamentou o fato dos revolucionários bolcheviques não
terem liderado o capitalismo, disse que com sua notória incompetência até este
dariam um jeito de fazer naufragar. Talvez por isso, maestro, Elvis Presley
sempre teve muito mais imitadores do que Igor Stravinsky. A liberdade tem um
preço, dizem ser a eterna vigilância. Ora, babe, “ignorance is bliss”, Grace
Gianoukas devia ter uma pitada de razão ao reclamar que “ser intelectual dói!”.
Enquanto isso tudo
borbulhava no caldeirão da Madame Min, o site do IG anuncia uma pesquisa entregando
que a maioria da população é contra a liberação da maconha. Opinião considerada
careta e “baixo astral” por qualquer militante do rock cioso de sua “maluquez”.
É também contraditória, porque em outro lugar li que esse mesmo povinho brazuca
nunca viveu tão entupido de calmantes como o Rivotril. E, não bastasse o torpor
farmacêutico, andou-se também divulgando que estamos entre os vinte maiores consumidores
de cerveja do mundo... Pelo menos isso e fora todo o resto... Aliás, o Véio
Gagá sempre dizia que “o resto é que é o bom”.
Talvez as posições
cambiantes e incongruentes dos roqueiros - ora rebelados contra “o sistema”,
ora defendendo a volta da ditadura - tenham a ver com as teorias da sociedade
líquida de Zygmunt Baum, talvez não. A verdade é que a grande maioria das
pessoas é imediatista e prática em suas relações, inclusive aquelas de caráter
político e partidário. A mentira tem pernas curtas e a memória também, prova
disso é que a classe média já se iludiu com os militares uma vez e agora flerta
com esse “recordar é viver”. Talvez as cadeias invisíveis tragam não só a
insônia, mas os pesadelos. Se não incomodasse alguma coisa dentro doida o que
seria então?
Na pseudo-invisibilidade
da Internet muita gente adota posições veementes, pessoas amáveis e
inteligentes que admiro, adotam posições públicas bastante duras, fazem
críticas como fossem neo-revolucionários, ecos de outros cacarecos. Por que
será que não questionam esse impulso como um produto destilado do inconsciente
coletivo? Talvez, por isso, seja possível encontrar evidências de que a atual
moda de linchamentos tenha começado a se espalhar no mundo virtual. É preciso
dizer o diabo de quem não se conhece, aliás, é preciso eleger um diabo e depois
o destruir. O problema é que o diabo não existe, mas maioria das pessoas
acredita nele e vivenciam uma espécie de retorno do misticismo da idade média.
Para aqueles cujos
heróis morreram de overdose, sobreviver é querer entender o mundo, não
conseguir e então reclamar que nada nunca fez sentido. Então sentem sua postura
como uma forma de inteligência e esta é reconhecida e reforçada por muitas
pessoas. Talvez o que incomode nessa postura não seja a falta de questionamento,
mas a falta de sentido. Outra antiga proposição, igualmente sem resposta. Então,
pelo menos para um número bem grande de internautas, é muito mais fácil por a
culpa de suas frustrações nos outros, atualmente na Presidente do Brasil e em
seu partido. Esse papel já foi de muitos outros, inclusive dos militares. É um
círculo vicioso riscado na água, breve descobrirmos de verdade qual é o daquele
“imagina na Copa”... E então? E então nada.
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