“Rubem (Braga) adorava dar em cima de mulher
de amigo. Tinha uma boa saída para a sua falta de vergonha na cara:
– E você quer o quê? Que eu dê em
cima da mulher dos inimigos?”
Comentário atribuído a Raquel de Queiroz.
Comentário atribuído a Raquel de Queiroz.
Na primavera de 1978 quando veio espairecer nas terras capixabas, José Carlos Oliveira estava muito mais preocupado com a repercussão do lançamento de seu livro Terror e Êxtase (particularmente o autor o chamava de 1001) do que com a badalação que poderia haver em torno de sua atormentada figura. Na página 114 de seu Diário Selvagem, por exemplo, Carlinhos se ressente da forma como foi retratado pelo colunista Hélio Dórea.
“27 de setembro – Fim das férias. Mesquinharias capixabas: nos dias de Maciel, Alaíde pediu
uma nota sobre 1001 ao colunista Hélio Dórea. Não saiu nada. Hoje saiu. Ela se
mostrou vitoriosa. Mulher ingênua! Saiu ontem uma nota no Ibrahim e o seu
copiador daqui incluiu que sou chique, colunável em nível nacional. Só por
isso. Gentinha de merda! Depois eu conto mais”.
Com
esse desabafo furibundo Carlinhos demonstra ter algum entrevero em particular com
o colunista – ou então a implicância era com os que se dedicavam ao, sorry periferia, assaz provinciano
colunismo capixaba - e não propriamente com o gênero de coluna social. Afinal,
valoriza a nota dada por Ibrahim Sued (1924-1995, considerado o inventor do
colunismo social brasileiro) e ainda termina fazendo graça, mencionando um
bordão que seria muito repetido pelos deslumbrados escarafunchadores da high society.
Desde
o início da passagem de Carlinhos pelo Espírito Santo, confesso, estava com
medo que sua fúria se voltasse na direção de meus pais. Afinal, os jornalistas Maria
Nilce e Djalma Juarez Magalhães eram inimigos ferrenhos de seu prezado amigo e anfitrião
- o então Governador do Espírito Santo, Élcio Álvares - e imaginava que críticas,
inevitavelmente, apareceriam... E apareceram. Porém,
ao invés de puramente ofensivos, os comentários forneceram um panorama bastante
rico, único e real daquele período.
Carlinhos, eventualmente, menciona frases popularizadas pela colunista Nina Chaves, famosa por introduzir moda e estilo na imprensa nacional, como na Página 105 ele fala: “Como dizia a Nina Chaves – qualquer descuido pode ser fatal”. Com isso esclareceu a origem de um jargão muito usado por Maria Nilce: “Todo descuido pode ser fatal”, provando que, como na televisão, também em sociedade “nada se cria tudo se copia”.
Carlinhos, eventualmente, menciona frases popularizadas pela colunista Nina Chaves, famosa por introduzir moda e estilo na imprensa nacional, como na Página 105 ele fala: “Como dizia a Nina Chaves – qualquer descuido pode ser fatal”. Com isso esclareceu a origem de um jargão muito usado por Maria Nilce: “Todo descuido pode ser fatal”, provando que, como na televisão, também em sociedade “nada se cria tudo se copia”.
No
início das férias Carlinhos ficou alternando estadias entre a Residência Oficial
do Governador, em Vila Velha; visitas ao hotel Porto do Sol de seu amigo João
Dalmácio, em Guarapari e a casa de Victor Martins em Manguinhos, onde, por sinal,
botou olho gordo na beleza deslumbrante da namorada do amigo, a Judith. Naquela
época, Vitória, Praia da Costa e Manguinhos eram núcleos distintos e distantes,
não havia a sensação que hoje temos de estarmos na mesma cidade, separados por
engarrafamentos.
Quando
finalmente resolve visitar Vitória, ou mais precisamente o famigerado
restaurante do Ferrinho, é que Maria Nilce e Djalma Juarez Magalhães (Páginas
121 e 122) são finalmente mencionados.
“Almocei com ferrinho. Apareceu M.N.,
a fofoqueira do Jornal da Cidade.
Ferrinho me transforma o metabolismo; há algo ansioso nele e algo mais que
ansioso: maligno. M.N. também. (...) A proximidade de pessoas doentes da alma –
Ferrinho, Maria Nilce – provoca a perturbação psicossomática que me faz sofrer
o estômago (...) Atenção: D.J.M., marido de M.N. e preterido pelo Élcio quando desejava ser vice-governador, é agente do SNI ou DOPS ou DOI-Codi, ou tudo ao mesmo tempo."
Maria Nilce autografando seu terceiro livro "Como o Diabo Gosta" que foi lançado justamente no Restaurante do Ferrinho |
Diferente
do episódio com o antigo colunista de A Gazeta é preciso levar em consideração
que o desprezo que Carlinhos demonstra pela “fofoqueira do Jornal da Cidade” revela
também uma subjetiva influência da amizade e de solidariedade com o
Governador e sua esposa; ambos, sistemática e ingenuamente – na maioria das
vezes - ridicularizados por Maria Nilce em sua coluna diária. A razão dessa
birra seria uma mal explicada “traição” – mal explicada na minha memória – que
levou os donos do Jornal da Cidade a fazer oposição ao Governo de Élcio Álvares
de forma bastante aberta e folclórica. Como era época da ditadura, em que os
companheiros da imprensa geralmente tocavam pianinho, com suas loucuras Maria
Nilce consolidaria neste período a imagem de mulher guerreira e corajosa...
Capa do terceiro livro de Maria Nilce, lançado em 1979. |
NA PRÓXIMA EDIÇÃO
O diário de José Carlos Oliveira ajuda a Letra
Elektrônica a desvendar um episódio mal explicado da década de 1970. Para tanto vamos
abrir os arquivos do Dops e revelar o que o Exército pensava sobre o casal dono
do Jornal da Cidade...
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