Os elevadores estão em
reforma - acho que por isso - outro dia lembrei coisas que havia esquecido. Obras
e paredes nuas fazem isso comigo. Não me recordo de ter sentido medo de
elevador quando criança, nem mesmo de ter algum estranhamento. Muito menos
lembro quando foi a primeira vez que andei em um. Quando terá sido? Em algum
edifício do centro da cidade talvez, foi onde conheci os primeiros prédios.
Edifício Aldebaran, por exemplo, que nome bacana.
Lembro velhos
elevadores no Rio de Janeiro onde visitávamos a família de papai. Minha avó
morava num prédio em Botafogo, Rua e Edifício Real Grandeza. Nós moramos sempre
em casas e sobrados e no Rio tinha uns elevadores antigos daqueles com “ascensorista”
e porta “pantográfica”. Disso eu lembro o estranhamento, do nome e do aviso.
Hoje poderia até fazer uma ligação direta com sacanagem - porta “pornográfica”?
- mas no mundo já abundam dessas redundâncias.
O Rio de Janeiro
daquela época era um lugar pra lá de bacana, avenidas muito largas, engarrafamentos
e zilhões de edifícios. Da janela da sala dava pra ver o Corcovado, o Cristo
envolto pela noite, iluminado pela lua. Eu achava muito legal o sotaque dos
cariocas a perguntar o endereço de vovó: “é perto da Voluntáriox da Pátria?”
Gozado, papai nunca teve o menor sotaque botafoguense, quem àx vezex puxava o
“s” era mamãe - que nasceu e cresceu em Timbuí – isso por que...
Eu-sei-lá-por-quê.
Lembro crianças que
estranharam o elevador na primeira vez que o viram, porque entravam num lugar e
saíam em outro completamente diferente. Vivi essa sensação de magia dentro de
um armário antigo no qual brincava de viajar com minha irmã caçula, fantasia
parecida com as Crônicas de Nárnia que na época nem suspeitávamos existir. Os
armários de hoje não caberiam nem os “Ricardões”, não é só porque a coisa
apertou, ouvi dizer que os amantes engordaram e usam carruagens vermelhas.
Os elevadores seguem em
reforma e a vida continua: subindo à cobertura tríplex e descendo ao fosso da
corrupção, o Brasil e suas enormes variações de dinâmica. Eu vejo buracos nas
paredes, tijolos e argamassa por baixo do reboco. Lembro que também tenho
algumas obras em andamento e me pergunto como ou quando isso vai terminar. Incomoda
um pouco suspeitar a falta de significância, mas não é por isso que tenho de
falar: é que por dentro tem essa questão que sobe e desce e sobe e...