Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o
mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer
estas coisas, e não omitir aquelas. Mateus 23:23
Como até a Tia Naná já
sabe, o carnaval tem o significado de “adeus à carne”. É o período que antecede
a quaresma, a partir do qual – segundo a tradição cristã - deveríamos jejuar e
nos abster de comer a carne dos animais, sem falar em outros prazeres “da
carne”. É a hora adequada para pensar na vida, inclusive a dos outros e até dos
bichinhos, mas num estilo “despedida de solteiro”, o feriado virou sinônimo de
festa, alegria e ... muita porralouquice. Portanto, curtamos nossa farra, mas
tomemos cuidado. Pois já dizia sei-lá-quem: depois de todo oba-oba vem sempre
um epa-epa!
Na quarta-passada o
Prefeito de Vitória prestou contas aos vereadores capixabas na Câmara do
município e - talvez pela proximidade com o carnaval - alguns dos “nobres edis”
prepararam-se para uma carnificina, mas acabaram colhendo resultado bastante
diferente. Porém, não há nada de estranho nessa intenção de embate, tanto
politicamente falando – e estamos no ano eleitoral – quanto pelo próprio papel
que desempenham os representantes do povo, a prestação de contas é um momento
que os vereadores fazem suas reivindicações, críticas e cobranças ao Prefeito.
Falou-se bastante na
mídia sobre o evento porque foi um pouco mais acalorado, digamos assim, do que
os anteriores. No dia seguinte, o ponto comum entre os comentaristas políticos foi
a maneira firme com que o atual prefeito da capital respondeu os
questionamentos, mesmo porque alguns foram equivocados e um, em especial, ainda
não vi ser mencionado por ninguém.
O vereador Wanderson
Marinho, na contramão de um movimento bastante premente em defesa dos direitos
dos animais, criticou a criação de uma praça para cães em Jardim Camburi,
enquanto em sua região - a Grande São Pedro - existem reivindicações não
atendidas. Se tivesse um pouco mais de cultura inútil aventaria a velha máxima
“salvem as baleias e os humanos que se danem”, mas seguiu no raciocínio de que “as
gentes” devem ter precedência em relação aos bichos.
Para amplificar o
inusitado havia um pequeno grupo que, para incentivar o vereador, danou a latir,
uivar e mugir, emprestando um tom de deboche a um assunto que é sério. Fato: a
Praça Nilze Mendes em Jardim Camburi foi adaptada para o uso de cães, dando
qualidade de vida para os bichinhos. Fato também: a comunidade da Grande São
Pedro merece toda atenção da Prefeitura. Mas será que uma coisa é mais
importante ou excluiu a outra?
Existe um sentimento
de respeito e compaixão pela vida dos animais que vem crescendo e se difundindo
através de adoções e ações como o vegetarianismo, veganismo e outras folhas e
legumes. Há séculos a humanidade abusa cruelmente da bicharada, transformamos sangue
e carne em indústria e sequer percebemos que as vidas consumidas, as dores que
causamos, o ódio que digerimos podem ser causa dos tormentos que nos adoecem.
É preciso olhar para a
sociedade com a perspectiva do tempo, porque os costumes mudam. Por exemplo,
hoje é absurdo pensar que um dia já foi comum escravizar legalmente pessoas -
ilegalmente ainda rola. Quem sabe um dia o massacre diário de milhões de animais
para consumo humano não seja visto como absurdo também? Algo próximo do nojo bíblico
que temos pelo canibalismo. Quem sabe?
Ao tampar a cabeça não
podemos descobrir os pés: devemos cuidar de nossos irmãos, dos animais e de
todo o resto que for possível. Porque, no fundo, as pessoas que não têm
respeito pelos “bichos” muito comumente estão pouco se lixando para o resto da
humanidade. O Vereador Wanderson Marinho é um bom rapaz, eu o conheço
pessoalmente, tenho certeza que seus argumentos tiveram boas intenções, o
problema é que destas o inferno está cheio.
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