Sexta a noite. Parada estratégica na praça de alimentação do shopping para um jantarzinho barulhento, depois um cineminha. Por que não? Vejo poucas pessoas conhecidas quando vou a esses lugares e acho curioso isso. A maioria das vezes em que vou ao supermercado, por exemplo, encontro sempre de três a quatro amigos e conhecidos, minha geração parece mais prática e acomodada a lugares onde não se cobra pra estacionar... Ainda.
Uma das coisas que mais incomoda em shopping é o barulho, uma balbúrdia louca que - em face da quantidade de informação visual - passa despercebida a muitos. É um som reverberante comum aos lugares fechados e lotados e que irrita, desorienta, geralmente fico louco para ir embora. Conversando com um grupo de cegos eles me disseram que se sentem assim também, o som é uma de suas principais ferramentas de orientação. É uma merda, mas não vai mudar: não é pensado para os que têm ouvidos para escutar.
Diversão é observar as pessoas. Tantas, diferentes e únicas, a vaidade as torna engraçadas e inacreditáveis. Especialmente isso. Na mesa ao lado tem um casal que traz o filho por uma espécie de coleira, como um cão. O menino, curiosamente, se comporta como tal, tentando se soltar e correr em liberdade, só faltava latir. Alguns passam e comentam, os pais fingem indiferença e devoram enormes hamburguers com Coca e batata frita. Ali estava o link para o filme que iríamos assistir: Ensaio Sobre a Cegueira:
Fernando Meirelles é um diretor requisitado em Hollywood atualmente, talvez o único daqui que realmente tenha se tornado mainstream. Depois do sucesso mundial e do reconhecimento obtido com Cidade de Deus o diretor partiu de vez para produções de primeiro mundo. Assisti a uma longa entrevista dele no programa Roda Viva da TVE, comandado pela ex-global Lílian Wite Fibe – visivelmente deslumbrada com a presença do diretor -, cujo tema central era o lançamento de seu novo filme.
Meirelles tem um blog - há muito não atualizado - que nos dá uma grande panorâmica sobre o fazer cinematográfico, as difíceis decisões na busca por um produto íntegro e comercial ao mesmo tempo. O diretor rasga o verbo, comenta de situações constrangedoras que um artista tem que administrar para ser peão da indústria norte americana, tanto que quando ficou sabendo que estavam traduzindo o blog para inglês achou melhor parar de escrever. Algumas pessoas da Miramax mereciam ter lido.
Ensaio Sobre a Cegueira acabou se revelando uma história difícil de ser traduzida para a linguagem cinematográfica, Meirelles teve trabalho em encontrar uma edição que não chocasse tanto a platéia e esse foi talvez o problema. Se a idéia não era espantar (nos dois sentidos) o espectador, porque então escolher uma história que inclui, por exemplo, duas seqüências de estupro? Eis a questão. Não vou dizer que o filme é ruim, nem que é descartável como se exige do cinema pipoca americano, o problema é que tentando agradar troianos e conciliar abismos o diretor se perdeu e não conseguiu produzir um filme visceral daqueles para se guardar na prateleira de casa e rever de vez em quando.
Uma das coisas que mais incomoda em shopping é o barulho, uma balbúrdia louca que - em face da quantidade de informação visual - passa despercebida a muitos. É um som reverberante comum aos lugares fechados e lotados e que irrita, desorienta, geralmente fico louco para ir embora. Conversando com um grupo de cegos eles me disseram que se sentem assim também, o som é uma de suas principais ferramentas de orientação. É uma merda, mas não vai mudar: não é pensado para os que têm ouvidos para escutar.
Diversão é observar as pessoas. Tantas, diferentes e únicas, a vaidade as torna engraçadas e inacreditáveis. Especialmente isso. Na mesa ao lado tem um casal que traz o filho por uma espécie de coleira, como um cão. O menino, curiosamente, se comporta como tal, tentando se soltar e correr em liberdade, só faltava latir. Alguns passam e comentam, os pais fingem indiferença e devoram enormes hamburguers com Coca e batata frita. Ali estava o link para o filme que iríamos assistir: Ensaio Sobre a Cegueira:
Fernando Meirelles é um diretor requisitado em Hollywood atualmente, talvez o único daqui que realmente tenha se tornado mainstream. Depois do sucesso mundial e do reconhecimento obtido com Cidade de Deus o diretor partiu de vez para produções de primeiro mundo. Assisti a uma longa entrevista dele no programa Roda Viva da TVE, comandado pela ex-global Lílian Wite Fibe – visivelmente deslumbrada com a presença do diretor -, cujo tema central era o lançamento de seu novo filme.
Meirelles tem um blog - há muito não atualizado - que nos dá uma grande panorâmica sobre o fazer cinematográfico, as difíceis decisões na busca por um produto íntegro e comercial ao mesmo tempo. O diretor rasga o verbo, comenta de situações constrangedoras que um artista tem que administrar para ser peão da indústria norte americana, tanto que quando ficou sabendo que estavam traduzindo o blog para inglês achou melhor parar de escrever. Algumas pessoas da Miramax mereciam ter lido.
Ensaio Sobre a Cegueira acabou se revelando uma história difícil de ser traduzida para a linguagem cinematográfica, Meirelles teve trabalho em encontrar uma edição que não chocasse tanto a platéia e esse foi talvez o problema. Se a idéia não era espantar (nos dois sentidos) o espectador, porque então escolher uma história que inclui, por exemplo, duas seqüências de estupro? Eis a questão. Não vou dizer que o filme é ruim, nem que é descartável como se exige do cinema pipoca americano, o problema é que tentando agradar troianos e conciliar abismos o diretor se perdeu e não conseguiu produzir um filme visceral daqueles para se guardar na prateleira de casa e rever de vez em quando.
O curioso é que – entre tantas concessões - um das cenas que Meirelles não aceitou mudar foi a dos cães, porque estava no livro de Saramago e - mesmo com rejeição do público em test screens - o diretor bateu o pé pra cachorrada ficar. Volto então minhas lembranças para o menino cão na praça de alimentação e o barulho que desorienta aqueles que não enxergam. Essa é a luta do dia a dia: perceber-se vivo, manter-se desejado (comercial) e íntegro ao mesmo tempo. Parece fácil não é? Então vai lá fazer sabichão!
Um comentário:
Juca, vc é uma figuraça escrevendo!!! kkkkkk
Estava meio sem vontade de assistir esse filme, mas acho que agora eu já sei! Não vou assistir!
Olha, te linkei no meu blog...
Beijos mill
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