Sexta passada terminou as comemorações do 68° aniversário da Biblioteca Pública Municipal de Vitória que tem o nome do escritor e homem público Adelpho Poli Monjardim. Nessa noite foram lançados três livros do patrono da biblioteca, na verdade dois foram relançados “O Espírito Santo na Lenda e no Folclore” e o romance “O Tesouro da Ilha de Trindade” e um inédito chega ao nosso público “O Militarismo na América Latina”. A iniciativa do lançamento foi da mestranda em literatura Eliane de Souza que resgatou essas obras e, conseqüentemente um pouco de nossa história e literatura, através da Lei Rubem Braga.
A anfitriã da noite foi a bibliotecária Eugênia Broseguini que está à frente da Biblioteca Municipal e recebeu a equipe de A Letra Elektrônica com enorme simpatia. O coordenador da Lei Rubem Braga, Leonardo Monjardim também estava lá representando a família, ele é sobrinho neto de Adelpho, que em sua época respondia pelo singelo apelido de “Bium”, descobri essa informação no livro “Personalidades do Espírito Santo” publicado em 1980 por Maria Nilce e Djalma Juarez Magalhães, o qual recomendo por ser uma das poucas fontes de pesquisa sobre as pessoas que ajudaram a construir nossa sociedade. Por essas e por outras fico “P” da vida quando dizem por aí que Maria Nilce vivia de falar mal das pessoas e hoje só é lembrada pelo escabroso crime que a vitimou.
Quem também prestigiou o lançamento foi o atual secretário de cultura de Vitória, Alcione Pinheiro, com quem conversei sobre o poeta Elmo Elton do qual falarei a seguir. Outra participante dessa iniciativa foi a Presidente de Honra do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Lea Brígida Rocha de Alvarenga Rosa. Pessoa muito querida que participou ativamente do lançamento do meu livro sobre a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo e que aproveitou para me intimar a contribuir com a revista do Instituto. Na hora do lançamento a poetisa e escritora Kátia Bobbio declamou um poema de amor à cidade de Vitória. Quem não foi perdeu, os livros foram distribuídos gratuitamente.
O Secretário de Cultura de Vitória, Alcione Pinheiro, me deu notícias do acervo do escritor Elmo Elton que em breve será recatalogado e organizado para visitação pública, disse inclusive que chegou a freqüentar a casa do poetinha no final dos anos oitenta. Chegando em casa achei em minha biblioteca uma edição de seu último livro “Logradouros Antigos de Vitória” autografado para Maria Nilce Magalhães com uma bela caligrafia em abril de 1987. Em minha papelada encontrei também uma crônica da colunista do Jornal da Cidade falando da morte do poeta - hoje praticamente esquecido e ignorado pela maioria - com muita sensibilidade e carinho, a qual quero compartilhar com vocês:
SILÊNCIO ... UM POETA MORREU
Um poeta não poderia morrer assim, num dia de domingo de verão, às duas e meia da tarde. É como dizia Olavo Bilac: “nunca morrer assim, num dia assim, de sol assim...” Mas, assim estava escrito nas páginas de seu destino. Nosso poetinha, tão magrinho, tão delicado, tão amigo e prestativo! Quantas vezes o procurei pedindo uma colaboração para valorizar os meus cadernos especiais e ele prontamente me atendeu. Correto, leal, pontual, entregava-me a matéria pedida com a rapidez das águias.
Vitória não perdeu somente o seu maior poeta. Vitória perdeu um dos maiores historiadores, um dos maiores intelectuais, uma pessoa que dedicou sua vida às letras. Membro da Academia Espírito Santense de Letras, autor dos livros Marulhos, Heráldicos, Dona Saudade, Cantigas, Poemas, O Noivado de Bilac, Áurea Pires da Gama, Amélia de Oliveira, A Família de Alberto Oliveira, Poetas do Espírito Santo, Anchieta, Temas Capixabas, Trovadores Capixabas e Logradouros Antigos de Vitória.
Elmo Elton pretendia ainda lançar mais um livro, um estudo sobre a Academia de Letras Capixaba e a biografia dos seus acadêmicos. De sua maravilhosa coleção de antiguidades, objetos de arte, (O Secretario Alcione Pinheiro disse que o poeta tinha em sua coleção uma cadeira que fora do Padre Anchieta) tudo o que havia em seu apartamento, inclusive mais de dez mil livros, ele doou no ano passado para o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. No final de dezembro ele escreveu uma mensagem para eu enviar aos meus amigos que, por falta de tempo, não enviei e que agora publico para vocês. Foi o último trabalho de Elmo Elton para mim.
“O Natal está aí. Vamos comemorá-lo como nos anos anteriores, com alegria e redobrado amor, rogando ao Menino Jesus que o Ano Novo seja de todo favorável às nossas aspirações e atividades, agradecendo desde já, sua divina proteção, sem a qual nada conseguiremos de útil a nós mesmos e aos que nos são caros.”
Elmo Elton Morreu, mas na verdade os poetas e os artistas não morrem, porque eles se eternizam através de sua arte. Ele estará sempre vivo nos escritos que deixou.
Maria Nilce em 26 de janeiro de 1988
2 comentários:
Passando rap-10 pra desejar uma semana abençoada
bjsss
Muito bonito mesmo!
Na época eu era uma criança, mas valeu conhecer hj por aqui!
Abraço
Chico
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