Texto Originalmente publicado no blog Opinião e Cultura de meu amigo Marcus Machado
Maria Nilce
Cerca de um mês atrás o jornal A Gazeta publicou uma crônica de minha autoria em que falo sobre uma pessoa que marcou época pela sua personalidade e jeito de ser. Uma jornalista, empresária, escritora e, já àquela época, midiática. Não sou seu contemporâneo, mas, ainda garoto lembro pessoas que comentavam sobre ela e sobre seus textos e frases cotidianas. Parecia não haver meio termo ou hipocrisia: ela gostava ou não das pessoas e assim vice versa. Maria Nilce não tinha papas na língua. Falava bem dos que gostava e mal dos que não gostava. Isso não era assim pelas costas, aos sussurros junto aos ouvidos. Não. Estava em suas crônicas, sua coluna social e em seus dois livros. Pelo que soube, vestia-se de forma extravagante, muitas vezes até sensual demais, aproveitando sua estatura e corpo bem brasileiro. E provocava burburinho nos salões de festa daquela Vitória provinciana, quintal do Rio de Janeiro.
Há pessoas que são assim mesmo, autoconfiantes, exibidas, polêmicas, amigas, inimigas, sinceras, autenticas e empreendedoras de si mesmas. Maria Nilce chegou a ter uma programa de televisão na TV Vitória, participou do júri do Chacrinha na TV Globo e teve uma coluna social em A Tribuna. A seu modo, redigiu algumas letras da memoria escrita, falada e visualizada do Espirito Santo. Para que se tenha uma ideia, mesmo atacada pelo provincianismo e pela dificuldade em ser diferente e provocante ela conseguiu criar um jornal diário, o Jornal da Cidade. Eu não gostaria de estar na pele daqueles que por algum motivo ou sem motivo aparente algum sofriam o peso de sua voz e de sua mão, literalmente, ou ao escrever. Não devia ser muito agradável. É possível questionar também o tipo de jornalismo que ela fazia e com qual finalidade ela exercia esse jornalismo, que alguns chamavam de imprensa marrom. Mas que ela fez sucesso, isso fez. Que teve admiradores e amigos como Tao Mendes, isso teve.
Em seu segundo livro “Crônica de uma Ilha (Muito) Doida” quem fez a antológica capa foi o Milson Henriques. E como disse o Marcos Alencar na página de apresentação do livro: ela “Era uma pessoa que queria ser, e foi”. Não há como desconsiderar Maria Nilce e tudo que ela fez. Demitida de um jornal, não foi em busca de políticos que a conseguissem um cargo público, pelo que soube. Mas, foi empreendedora ao fundar um jornal. E depois, afundá-lo por falta de receita. Uma vida dura, incandescente, inebriante, intensa e memorável. Não vou comentar sobre o seu lado familiar, o amor pela sua família porque além de não ser contemporâneo eu não me proponho escrever sobre intimidades sentimentais, sobre o âmago de seu papel como esposa e mãe. Isso é deles, da vida deles. Vive na saudade deles.
Quando o artigo que escrevi foi publicado em A Gazeta, muitas pessoas me procuraram pedindo mais informações sobre ela e como encontrar seus escritos e livros. Inclusive um jornalista atual que eu considero muito, o Jace Theodoro. Sugeri que procurassem a Biblioteca Pública Estadual, pois soube que seu filho havia doado todo o material que possuía sobre sua mãe para aquele órgão público que tem por finalidade preservar e expor a memória capixaba. Isso é uma responsabilidade Institucional que justifica sua existência. Além do mais, Maria Nilce foi assassinada, executada quando caminhava ao lado da filha em via pública de Vitória e esse material poderá ser útil na apuração total desse crime, ainda insolúvel. Porém, soube que lá não se encontra nada. Isso seria a segunda morte de Maria Nilce. Vou averiguar isso com mais acuidade e torço para que esses documentos estejam disponíveis ao público interessado em nossa história capixaba. Uma história autêntica e verdadeira.
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