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domingo, 7 de outubro de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: CANDIDATA

Você conhece alguém que durante uma conversa tem a mania de te fazer repetir o que foi dito? Até acontece da gente não ouvir ou deixar de entender uma coisa ou outra, mas durante toda uma conversa inteira é chato pra caramba. Parece um tipo de gagueira, o cara não consegue responder nada de pronto e te obriga a repetir.

Como falei da gagueira - que até onde eu sei é um distúrbio de formação da frase - essa outra “disfunção” já deve ter sido mapeada por algum desses "psis" que vivem de dar nomes intelectualóides às coisas bizarras do mundo. Tipo é a “síndrome do pânico”. Cara, que nome mais besta! Não seria muito mais simples dizer que a pessoa tá com: “chilique de frescura involuntária” ou “ataque do medinho inexplicável”?

Uma vez me indicaram um luthier que tinha a fama de ser o melhor profissional pra mexer com guitarra por aqui, levei meu instrumento na oficina dele pra regular o braço e tudo o que eu perguntava o miserento respondia: “veja bem”. Aquilo foi dando uma agonia:

- Ó só, eu tenho essa Washburn aqui pra regular o braço, você mexe com esse tipo de guitarra?

- Veja bem: (pausa) eu sou o representante autorizado no Estado...

- E quanto é que você me cobra pelo serviço?

- Veja bem: (pausa como se estivesse pensando) esse braço da sua guitarra parece que já foi mexido antes e blá, blá, blá... Mas dá pra fazer sim, por tanto...

- Tá bom. Então, em quanto tempo você me entrega?

- Veja bem: (pausa dolorosa, aqui eu quase dei linha) tem uma fila enorme de instrumentos pra mexer ainda e blá, blá, blá... 
 
No final só deixei a guitarra porque o cara tinha sido indicado pelo Saulinho, se ele falasse mais um “veja bem” daqueles não sei não... 
 
Quando liguei pra saber se o serviço estava pronto ele falou: “Veja bem: (pausa) (...) Tá pronto sim, pode vir buscar”.

Outro que tem a mania de surdez sem ser surdo é um amigo meu candidato a vereador, Deus me livre ele na Câmara...

- E ahê cara! Cumé que tá a campanha?

- Hãn? – Acho um saco quando ele responde com esse hãn, mas eu tava ali só jogando conversa fora mesmo:

- Tá fácil ou tá complicado aí pra se eleger irmão?

- A campanha tá boa, tá boa. Tá indo de vento em popa, meu nome tá na rua.

- Eu já falei pra rapaziada lá de casa toda votar pra você.

- Hein? – Ainda bem que era mentira. Mas insisti na coisa pra tentar me garantir.

- Nóis vamo tudo votá pra você!!!

- Que bom, que bom... Eu conto com vocês mesmo. Tamo junto!

- Depois quero só ver se tu vai me arrumar alguma coisinha lá na Câmara hein?

- Hãn?

- Porra bicho, cê tá ficando surdo? Vai limpá essas orelhas cara!

- Hein? – Que nem o gago, quanto mais o cara fica nervoso menos escuta.

- Nada não, dexeu imbora que tenho que pegar minhas criança lá na escola.

- Tá bom, tá bom... Quê qui cê achou da músiquinha da minha campanha?

- Bom, eu consegui escutar e você?

- Hein?

- Achei uma merda, tá? Té mais.

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