O uso de drogas é paralelo à história
da humanidade é específico de quem tem consciência querer experimentar com a
consciência. Não adianta divulgar a importância, o objetivo central da
abstinência, porque quem não pode, não quer ou não consegue ser abstinente fica
fora do seu projeto de educação. Então o caminho é a educação por autonomia,
que é desenvolver nas pessoas a capacidade de reflexão e ação que seja
protetora de si e do seu entorno.
Professora Gilberta Acselrad –
coordenadora do núcleo de estudos de drogas, aids e direitos humanos da UERJ.
Uma vez um amigo visitou minha casa com um pirralho naquela idade que quer mexer em tudo e o cara começou a
tirar o que fosse perigoso da face do destruidor. Ao invés de dar-lhe um
“cascudo” (agora eu fui longe) e dizer para o filho não mexer em nada, aquele
“tira e bota” virou uma brincadeira boboca entre eles.
Num segundo episódio,
eu almoçava com meu cunhado Marcos e seu filho Matheus - na época com dois, ou
três anos - teimava em pegar algo que não podia da mesa. Muito calmamente o
objeto era tomado da mão do menino e recolocado à sua frente, daí a disputa
recomeçava. Lá pelas tantas eu falei: “tira esse negócio de perto dele”. E meu
cunhado respondeu: não, ele tem que
aprender que NÃO PODE.
São atitudes
diferentes e emblemáticas que podem muito bem serem transpostas para a forma
como a “sociedade organizada” - porque geralmente o Estado age como as pessoas
do primeiro caso - ao invés de procurar a compreensão, quer ter a pretensão de
barrar o acesso a determinadas coisas, o tempo todo. Evidente que isso é uma
falácia, ainda mais quando pensamos que muitos fomos criados nesse jogo boboca de
que tudo nos é permitido desde que possamos alcançar. A diferença entre as
atitudes parece pequena, mas não é. A dita “educação por autonomia” busca o
entendimento individual de que podemos ter acesso a muitas coisas, mas algumas
- apesar de parecerem muito bacanas e desejáveis - realmente não valem a pena e
isso é muito diferente de dizer “você não pode ter e pronto”.
Quero ressaltar duas questões
graves bem específicas que são geralmente tratadas com curiosa e histórica hipocrisia,
porque a sociedade age como se estivesse perplexa e reage como aquele pai “me
engana que eu gosto”.
Existe uma ponte que
liga a capital do Espírito Santo a uma cidade adjacente, sabe-se-lá-porque, com
o passar do tempo, aquela travessia foi escolhida como “point” predileto dos
suicidas. Desde há muito - lembro um episódio em meados da década passada -
parentes de pessoas que decidiram terminar suas vidas naquele lugar pedem para
que seja instalada uma rede de proteção. Esse é o momento em que é preciso
perguntar com dolorosa sinceridade: será que tirar a ponte do alcance do
suicida vai resolver realmente o problema?
Outra questão tratada
de maneira semelhante é a proibição institucional da comercialização e uso de
algumas conhecidas substâncias entorpecentes. Já está mais do que comprovado
que não se consegue “tirar as drogas do alcance das crianças” e tampouco se discute
francamente o assunto. Ora, é preciso entender porque as pessoas precisam usar
drogas ou decidem acabar com a própria vida. Ninguém mete a mão no bolso para
comprar uma coisa que não lhe preencha um vazio muito específico. Outro dia vi
alguém perguntar: se fosse proibido tomar uma cervejinha, você não tomaria?
No Facebook postaram
um vídeo muito interessante com relação ao “problema das drogas”: de um lado
temos a repórter da Globo com o discurso rasteiro de quem acha que a solução
para o piolho é cortar cabeças. Do outro uma especialista da UERJ com uma
postura bastante inusitada dizendo, entre outras, que o Estado não tem que se meter na vida de quem decide usar droga a não ser
para garantir a qualidade do produto. Vale a pena ver o vídeo e refletir sobre
o papel infantilizado que a sociedade organizada tem desempenhado nas questões
humanas, sobretudo na abordagem das escolhas que as pessoas fazem na
vida.
http://www.youtube.com/watch?v=K6kRpsoqeC8
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