Ontem, de manhã eu
vinha caminhado para o trabalho, estava um dia bonito com o céu bem azul e o
sol aquecendo minhas costas, tive a impressão que algo estava brilhando e
reluzindo que nem ouro à minha volta. As árvores, suas copas verdes um pouco
enegrecidas pela poluição, carros passando, pessoas se exercitando; os flanelinhas
muito falantes, fumantes e marrentos carregando baldes e ouvindo forró.
Quando alcancei a reta
onde as castanheiras se emparelham na calçada e formam um longo corredor pensei
que um dia bonito desses dá uma sensação danada de estar vivo. Pensei assim
mesmo: a sensação de estar vivo é essa que estou sentindo agora, com o sol
batendo em minhas costas e o vento lançando faíscas douradas no céu. Então lembrei
que o ator Robin Williams morreu.
Como pode eu, um cara
no cafundó de um país altamente banana, nessa linda manhã de sol estar
matutando o suicídio de um ator de Hollywood? Lugar tão distante e mitológico quanto
Shangrilá ou Avalon? É que Robin fez um dos filmes que eu mais amo. Ademais,
escrevi sobre suicídio semana passada e, para comprovar o que eu disse, o cara
não precisou do vão central da Terceira Ponte para abandonar o barco.
A minha atuação
favorita de Robin Williams foi o mendigo Parry no filme O Pescador de Ilusões,
obra prima de Terry Gilliam se quiserem saber minha opinião. O filme é uma
adaptação da lenda do Rei Pescador, um Parsifal para os nossos tempos. Li em
algum lugar que as interpretações loucas e engajadas de Williams eram regadas à
birita e cocaína, mas para mim não faz a menor diferença. A arte não pode ter
limitações, emburramentações, mas não ter limites no day by day é um problema na vida. Não podemos confundir uma coisa
com a outra. Por outro lado, nunca fui ator, muito menos um ator famoso, nem sei
se Hollywood é um lugar que existe de verdade.
Tem cimento áspero que
nem lixa embaixo dos meus pés no agradável corredor de castanheiras... Alguém
pichou TEG no muro do campo do Vitória...
O sol lambe minhas
costas e pessoas estranhas me cumprimentam como se me conhecessem, cheguei onde
devia e usei a voz mais bacana e calorosa que consegui. Eu sei que Robin não
era o Parry, mas acho que deve ter agora um monte daqueles little people à sua volta cheios de razões para celebrar sua
chegada sei-lá-aonde e sei também que nem sempre esse sol vai continuar a
brilhar, mas...
Enquanto eu escrevia
essas impressões rarefeitas o avião de Eduardo Campos caia na cidade de Santos,
só fiquei sabendo quando saí para almoçar, logo seríamos tsunamizados pelos
detalhes da notícia escabrosa. Descobri meio perplexo que nascemos no mesmo
ano, não-sei-por-que sempre acho que as pessoas importantes são mais velhas que
eu.
Terminei essa história
ensolarada e viva com a chegada de uma frente fria e com a impressão de que há
tempos não era tão agosto assim...
Nenhum comentário:
Postar um comentário