- Você gosta de Música? Todo mundo diz que gosta.
Essa frase é dita por David Byrne no seu mais ambicioso projeto o filme denominado True Stories, ou estórias reais, verdadeiras. Hoje, com a nova mudança ortográfica essa denominação “estória” foi pro saco e ficamos apenas com a “história”, mesmo quando para definir fatos que muitas vezes não são tão verdadeiros assim. Alguém pode por aí argumentar que no passado muito já se fez para que algumas estórias escabrosas entrassem para a história oficial, mas não podemos brigar com o mundo inteiro e querer arbitrar essa nossa língua complicada, correndo o risco de aumentar a bagunça.
Para quem não viveu os loucos anos oitenta e não tem obrigação de saber, David Byrne foi o líder messiânico de uma ótima banda chamada Talking Heads. O grupo surgiu no final dos anos setenta e em meados da década seguinte estava no auge, especialmente com a realização desse ótimo filme (lançado em 1986) em que vemos a cultura americana, especialmente a jeca, interiorana, em sua plenitude otária e consumista. Recortes de jornais sobre casos curiosos foram colecionados por Byrne durante anos dentro de uma caixa de sapatos para montar um arremedo de roteiro, mas o fio condutor é sempre a música da banda que deixou sua marca prensada em vinil no final do século passado.
Por isso a pergunta: “você gosta de música?” Tem muita ironia estofada nessa afirmação. Talvez porque, apesar de muita gente dizer que gosta de música, poucos são os que fazem alguma coisa por ela e, especialmente, por seus representantes. Ou talvez Byrne quisesse dizer apenas: que diferença faz se você gosta de música... Sabe o que Shakespeare disse sobre esse assunto? “O homem que não possui a música em si mesmo, aquele a quem não emociona a suave harmonia dos sons, está pronto para a traição, o roubo e a perfídia. Desconfia de tal homem. Escuta a música”.
Mas antes que esse texto fique grande demais, falando em língua e música, tô escrevendo para enviar aquele convite bacana para vocês meus chegados. Amanhã e depois acontece o tradicional concerto sinfônico da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo no Theatro Carlos Gomes. Esse concerto marca os cinqüenta anos da Aliança Francesa de Vitória e o início do ano do França no Brasil, coisa que eu nem estava sabendo, mas ontem encontrei com meu amigo Marcos Godinho que me deu algumas infos desse importante acontecimento. Eu estudei francês na Aliança, quando era lá nas grimpas da Rua Sete, no centro, mas confesso que não imaginava que sua história aqui já contava meio século.
O repertório deste concerto é indispensável para quem realmente gosta de música e tá ligado na subliminariedade desse texto. Na abertura tem de cara a obra “Pavane Por Une Infante Defunte” de Ravel, originalmente composta para o piano, mas cuja orquestração alcançou enorme sucesso, rolando até em novela da Globo. É impressionismo francês na veia. Na seqüência Carlos Cruz vai estrear a sua obra “Lendas Capixabas”, numa primeira audição mundial. Ocasião para se contar pros netos. Depois vem o belíssimo “Concerto de Aranjuez” - do espanhol Rodrigo - para violão e orquestra com nada menos que Paulo Pedrassoli como solista. Não bastasse isso tudo, ainda encerra o programa a obra “Quadros de Uma Exposição” - do russo Mussorgsky - que ficou mais conhecida arranjada para orquestra por Ravel.
Em seu conjunto esse é o repertório mais instigante que já vi a orquestra anunciar, ainda bem que haverá duas apresentações, porque as últimas não têm dado nem pra saída e frustrado muita gente. Esse negócio de ir lá no centro da cidade, num lugar impossível de se estacionar, duas da tarde pra pegar ingresso é de deixar qualquer um doido. Vamos torcer para que a Secretaria de Estado da Cultura consiga realmente concluir seus projetos ainda nessa administração como é o do Cais das Artes, porque do jeito que está não dá mesmo.
RESUMÃO ELEKTRÔNICO:
Já na quinta-feira os ingressos custam R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia) - as vendas para o dia 30/04 estão sendo feitas desde o dia 23/04, a partir das 14h, na bilheteria do Teatro Carlos Gomes (informações pelo número do Teatro: 3132-8396).
Regente: Manfredo Schmiedt
Solista Paulo Pedrassoli
Dias: 29 e 30 de abril
Horário: 20 Horas
Local: Theatro Carlos Gomes
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