Hoje é o dia internacional do Rock, 13 de julho, tô aqui ouvindo Rolling Stones só pra homenagear. É também aniversário de um grande amigo meu, o Bené, flautista da Orquestra Filarmônica, especialista em chorinho, mas que num tem nada a ver com o assunto. Pesquisando pela Internet descubro que a data foi estabelecida após o Live Aid de 1985. Uma parada bacana armada pelo maluco do Bob Geldof, aliás, ator principal do filme The Wall.
A primeira vez que vi essa “Ópera Rock” foi no Cine Glória, que hoje está lá sendo reformado. Fui com Ingrid Vervloet (pronuncia-se Verfluit) uma linda amiga, já há tempos falecida, e outras garotas da turma. A coisa mais incrível com relação a essa produção é a sonoridade atemporal do Pink Floyd nesse disco gravado no final da década de setenta. É um mistério como essa música nunca me soou datada e envelhecida como aconteceria com o Dark Side of The Moon e inúmeras canções que inundavam as rádios da época.
Saí do cinema na maior deprê quando vi o The Wall pela primeira vez, aquela história angustiante e baixo astral fez mal à minha sensibilidade de adolescente ainda cheio de ilusões românticas e sonhos fomentados pelo pacote de mentiras sociais daquela época. Respeitar e ser respeitado, compreender e ser compreendido e, sobre tudo, amar e ser amado. Tempos depois descobriria que o amor romântico ocidental, a compreensão e o respeito que se tem pelas pessoas são coisas baseadas em status social - o lugar que cada um tem dentro dessa sociedade -, mais do que na valorização de máximas cristãs.
O tempo foi passando e lá pelas tantas assisti o The Wall outra vez, lançaram a parada em vídeo com o natural estardalhaço e nossa galera se juntou para uma degustação estrambótica. Nessa época eu atravessava o auge da minha fase contracultureira de maluco beleza que achava tudo uma merda e que o roquenrou ia nos salvar daquela vidinha medíocre capixabesca, que nem os Beatles acharam um dia que o mundo ia ser salvo pelo amor. São tantas ilusões, já dizia “Sir” Robert Charles do alto de seus sessenta e tantos anos de sucesso.
Falando nisso e abrindo até um parêntesis: já tinha que ter dado esse negócio de homenagem ao “Rei”, né não? Confesso que devo ter gostado da “música” Robertocarlesca em algum lugar dos anos setenta, um pequeno enfante então, ouvindo “eu voltei agora pra ficar” e coisas do gênero. Depois, no auge da fase do metal, tornamo-nos inimigos do Rei, detratores de suas canções bregas, caretas e exageradamente doces, o que certamente não deve ter feito muita diferença, a não ser para seu braço direito, “O Tremendão”, vítima de latadas e vaias incessantes durante a realização do primeiro Rock in Rio, também em 1985.
Um dia desses conversávamos sobre o assunto e chegamos à conclusão que, mais do que o sucesso na música, Roberto Carlos é um grande exemplo de superação, um brasileiro que não desiste nunca. Imagine só: o cara conseguiu sair de Cachoeiro - que nos anos sessenta ainda nem devia ter aeroporto - foi pro Rio de Janeiro (no que fez muito bem, porque se viesse pra Vitória não teria dado nada certo) e conseguiu se tornar o maior ídolo da música popular brasileira; isso tudo sem uma das pernas. Cara! Robert Charles é Phoooddaaaaaa!!!
Uma das coisas que a gente mais detesta ouvir dos pais e pessoas de mais idade é: quando você crescer você vai entender. Ou então: na sua idade eu pensava assim também. Porém, só hoje compreendo as coisas que me perturbaram quando vi o The Wall pela primeira vez e admito que era mesmo muito inocente para saber do que o roteiro realmente se tratava. Eu não imaginava que a vida podia nos reservar tantos sofrimentos assim, eu nada sabia sobre a dor do abandono e o desejo de auto-isolamento que podemos ter quando feridos profundamente. O verdadeiro Rock’n Roll se diferencia dos outros estilos musicais justamente por essa preocupação de seus representantes em expor suas feridas, mais do que a felicidade aparente e artificial de festas de arromba e amadas amantes.
Ainda sonho, até mesmo quando durmo, em alcançar uma música que pudesse expressar a mais completa indignação com as mazelas sociais de nossa sociedade e que também fosse veículo de idéias positivas, como acredito conseguir fazer em meus textos escritos. Enquanto não volto ao mercado musical, deixo a árdua tarefa para esses tantos velhos e queridos amigos. Vou é pegar o meu já antigo DVD do The Wall para o rever essa noite. Quem sabe não consigo simplesmente usufruir o roquenrou em paz, pairando acima de toda essa insanidade e até do bem e do mal que as coisas do mundo nos faz?
2 comentários:
Oi, Juca! Como eu supunha estou gostando de lê-lo e até já o coloquei nos meus favoritos. :-)
Quanto ao Rock'n'roll, eu fico muito feliz de ele existir, um bálsamo na árdua existência, certamente.
Abraços, caríssimo!
Carla
Valeu Carla, pedra que não rola criam limo.
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