Bem amigos, muito já escrevi sobre os vinte anos da morte Maria Nilce Magalhães. De hoje até domingo estarei compartilhando com vocês três textos inéditos dela, espero que ajude a desvendar um pouco dessa figura lendária de nossa cidade, que hoje é, infelizmente, mais lembrada pelo crime que a vitimou do que por sua produção literária.
EU RESISTO
Lendo um depoimento de uma pessoa sobre Vitória me senti a própria cidade, especialmente quando ela diz que gosta de Vitória porque ela resiste. E eu sou como esta cidade...
Tá assim de gente invejosa e cheia de ódio querendo acabar comigo e eu resisto. Fazem macumba, mulheres infelizes que gastam seu tempo jogando biriba e falando mal de mim, porque reunião de “doncoca” para ser boa mesmo tem que ser metendo o pau em Maria Nilce.
Já tentaram me prender, tentam negar o meu valor, mas eu continuo de pé, resistindo e oferecendo sempre a todos meu otimismo, a minha vontade de vencer, a minha “filosofia de vida” que é: “no final dá tudo certo” ou “não há noite sem aurora”.
E eu faço parte dessa cidade hoje, como suas ruas, seus monumentos, suas praias e suas praças. Eu sou Vitória, amada por muitos, agredida por outros, mas jamais alguém poderá ser indiferente a nós duas. Eu aqui virei mito, fiz história.
Sou temperamental, sou incoerente, sou voluntariosa. Sei de todos meus defeitos e gosto deles, porque só as pessoas muito fortes podem assumir publicamente seus erros. Eu não escondo nada, daí o ódio mortal dessas mulheres frustradas, velhas inúteis, que nem identidade própria tem. São filhas de fulano de tal ou são mães de fulano de tal.
Que coisa mais triste a pessoa morrer e alguém dizer: “Morreu a mulher de fulano de tal”.
Quando eu morrer, morrerá um pedaço de Vitória, porque eu faço parte desta cidade, eu sou esta cidade, até nas pedras que lhe atiram, mas que não a destroem jamais.
Escrito por Maria Nilce em 30 de agosto de 1986
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