CALMA
Eu preciso ter calma.
Eu necessito de calma.
Mas a vida está exigindo cada vez mais pressa. Temos que correr cada vez mais, senão o tempo nos engole e quando a gente vê tudo já passou.
Uma oportunidade perdida hoje poderá acarretar uma grande desgraça para o futuro. Por isto eu aproveito todas as oportunidades. Mas eu queria ter calma.
Queria, por exemplo, acordar de leve e ficar mais um pouquinho na cama. Minha mão tocaria o botão do rádio e eu ficaria ali escutando uma musiquinha gostosa; quem sabe na voz de Vinícius, Chico Buarque ou Frank Sinatra.
Depois queria ter calma para poder tomar um banho gostoso. Nada de pressa. Curtir meu corpo com a água escorrendo, esfregar os cabelos com calma, vestir uma roupa bem transada sem pressa alguma.
Ah... Eu queria poder sentar num lugar e ficar olhando o “couché de soleil” silenciosamente, sem pensar nesta doideira de vida, nesta correria, nestas datas pré-estabelecidas, nesses compromissos que me esperam e que eu tenho a responsabilidade de cumpri-los.
Queria passear, neste verão tão bonito cujas manhãs convidam a uma praia ao nada fazer e às tardes convidam a ficar papeando a troco de nada, dizendo bobagens, comendo caranguejo.
Ah! Essa calma que eu preciso e que eu tanto queria está cada vez mais distante de mim, porque eu engrenei um trem da vida que não dá mais para pisar no freio.
O negócio é correr a cento e quarenta.
Mas eu queria ter calma.
2 de fevereiro de 1989.
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