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domingo, 4 de março de 2012

CRÔNICA DE DOMINGO: ETNOCENTRISMO


ETNOCENTRISMO NA VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

No capítulo anterior, em Santa Leopoldina um cara me recomendou fazer as curvas da estrada que não era de Santos, ainda assim digo que fiquei feliz em fazer a sua diversão insólita naquele momento glorioso de nossas existências. E, sim, como tinha curvas pra frente de onde estávamos! Quando cheguei em Santa Maria de Jetibá e comentei o assunto – eu sei-lá-quem – me disse que em certos pontos da estrada faz-se tantas voltas que até dá pra ver a placa traseira do próprio carro.

Mas não vamos subir as montanhas ainda, não por esse caminho reto e cheio de curvas, porque Deus escreve por linhas tortas. Vamos tomar aquele da direita que me deixara em dúvida e que valeu outra gozação dos habitantes de Santa Leopoldina há quase trinta anos. Dizem os historiadores que essa estrada foi uma das causadoras da derrocada econômica da região, porque, entre outras coisas, o “Porto de Cachoeiro” perdeu sua utilidade única de transporte das mercadorias para a capital...

Era casamento de Carlão Gazeta, conhecido assim por gostar de contar lorotas e ser portador de novidades. Falando nisso o Carlão tinha dois irmãos que eram bastante conhecidos na Praia do Canto: o Zé Peão e o Caed, mas não vejo nenhum dos três há séculos. Carlão ia casar com uma “filha” de Santa Leopoldina e, obviamente, ninguém cogitou a possibilidade de ir à cerimônia na igreja, mas na festa...

Fomos em dois carros: eu dirigindo um Escort branco e Danny Boy num Gol cinza que era da Copa do Mundo de 86 ou 82, sei lá. O problema é que, sem Internet, nem Google Maps - era meados da década de oitenta – ao invés de passar por Cariacica, fomos lá em cima de Santa Tereza e descemos pela tal estrada da perdição: uns trinta quilômetros de terra esburacada passando pelo cucuruto de três montanhas, várias cachoeiras maravilhosas e uma cidade chamada Itapocu... Vai guardando.

Conseguimos chegar bastante atrasados, como reza a praxe, e os carros aos pedaços. A festa estava meia coisada, mas perfeitamente assistível até que um cara descobriu que o povo bobo da cidade (nós), ao invés de passar pela estrada asfaltada e fazer o percurso em trinta minutos, tinha descido pela estrada velha, estragado o carro todo e levado mais de duas horas! A satisfa daquele sujeito me deixa prenhe de curiosidade até hoje: ele saracoteou nossa patetice em altos brados por todos cantos da festa, ria e apontava em nossa direção sem a menor preocupação com o meio ambiente. Não contente, foi à rua chamar o resto do povo da cidade, que não devia ser tantos assim, para não perderem a oportunidade de rir da gente também.

Muitos anos depois me contaram que os moradores de Itapocu – que significa minissaia em tupi guarani – acabaram fazendo um movimento para mudar o nome da cidade. A insatisfação era geral, entre outras coisas, sentiam-se muito constrangidos quando tinham que dizer o nome do lugar onde moravam. Veio então um plebiscito para definir um novo nome para o lugar e sabe qual ganhou?

- Destapocu! – Que traduzido do tupi quer dizer: tira a calça jeans, bota o fio dental...

P.S.
Okay people, parte dessa estória – dane-se a nova gramática – foi inventada por razões, digamos assim, literárias. Itapocu é da língua tupi mesmo e tem várias possíveis traduções, uma delas é Ita = pedra e poku = comprida. O tal vilarejo existiu com esse nome durante muito tempo e acabou sendo alterado para Colina Verde na administração do então prefeito de Santa Leopoldina Argeo João Uliana que foi quem me contou essa história.

Quem hoje imaginaria que em outros tempos o Governador do Estado fazia discurso pitando um cigarrinho? Na ponta esquerda vemos o deputado Francisco Schwarz, à direita de Eurico Rezende está o casal Argeo e Sabina Uliana e, entre outras personalidades, o ex-prefeito de Vitória Carlito Von Schilgen.

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