“Alguns anos atrás uma pomerana capixaba, loira de olhos azuis como todos de sua raça, conheceu um negro de cabelos pixaim, lábios grossos, pele e olhos negros. Meses depois ela entrou em pânico porque estava grávida. O menino nasceu mulato de olhos pretos e cabelo pixaim. Quando o marido chegou para conhecer o filho ela contou essa história: estava andando pela mata de repente encontrou um toco de árvore queimada, com o susto ficou grávida.”
Com apresentação de Maura Miranda e texto de Amylton de Almeida, assim começa o documentário que colocou em evidência para o Brasil os Pomeranos de Santa Maria de Jetibá, então um distrito do município de Santa Leopoldina. Parece estranho começar com uma piada, mas encontrar brasileiros que mal falam o português vivendo há mais de um século dentro do Espírito Santo, desperta espanto, uma óbvia curiosidade e alguma gozação. Uma história parecida já circulou pela Internet: um soldado Americano que passara um ano no Iraque reencontrou a esposa com um barrigão de seis meses. A moça explicou que engravidara ao assistir um filme pornô em 3D...
A então recém criada TV Gazeta empreendeu o documentário de 42 minutos que venceria o primeiro lugar no 1° Festival de Verão da Rede Globo. Filmado em 1977 e veiculado para todo Brasil no dia 2 de janeiro de 1978, Os Pomeranos é um raro registro de Santa Maria de Jetibá, cidade que se desenvolveu velozmente após terem chegado estradas asfaltadas, energia elétrica, e telefone. É até difícil acreditar, mas quando o documentário foi feito nada disso ainda havia por lá.
A equipe vencedora, que desbancou todas as outras retransmissoras da Rede Globo, recebeu um prêmio de 100 mil cruzeiros e quatro passagens para Nova Iorque. A direção geral ficou a cargo de Vladimir Godoy e a coordenação de Marcos Alencar, entre outros profissionais da época bastante conhecidos até hoje.
A Equipe realizadora de Os Pomeranos, né por nada não, mas o Marcos Alencar ficou a cara da Marly. |
O documentário abordou - e provavelmente - catalisou alguns ícones da cultura Pomerana como a cerimônia de casamento, a música de concertina e bandas de metais, a questão da língua, o aspecto religioso luterano e a dedicação do povo às lavouras que ainda fazem da região o principal fornecedor de hortigranjeiros para a Grande Vitória. Alguns registros valiosos estão eternizados como os depoimentos de figuras chave da região como Francisco Schwarz e Dalmácio Espíndula e até momentos pitorescos quando da entrevista de um colono com o seguinte diálogo:
- Ô Argeu você se lembra quando a sua família veio da Pomerânia pra cá?
- Não me alembro não.
- Mas nem de longe assim, você não tem recordação?
- De longe um pouco de recordação eu tenho, mas não muita. É pouca coisa.
- Você não sabe, ninguém nunca te informou nada quando é que eles vieram, alguma coisa?
- É... Isso eu sêo, de reformação como que eles vinham e tudo isso eu sêo sim.
- Como é que eles vieram pra cá?
- Eles vieram pra cá de avião.
- De avião é? – Nesse momento dá pra ver que o repórter (provavelmente Vladimir Godoy) está segurando o riso.
- De avião. – O pior é que o tal Argeo respondeu com toda segurança e peculiar simplicidade. Nesse momento não fica claro se a intenção era mostrar o isolamento do indivíduo ou, de novo, fazer piada com a ignorância do pomerano. Porém, esse tom desafinado com nossos tempos politicamente corretos, deve ter sido um gancho interessante para captar a audiência da época. Os Pomeranos é um documentário, por tudo isso, que deveria ser reapresentado nos dias atuais e até revisitado, comparando lugares e a trajetória das pessoas mostradas. Afinal, por mais que a região tenha mudado, as pessoas ainda estão por lá e, senão elas, estão seus filhos e netos que ficariam muito felizes de conhecer essas preciosas imagens.
Um comentário:
Show Juca, muito legal....como já disse adoro história, principalmente de nossa terra....rrsrs....
Abs e bom fim de semana.
Gallerani
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