Todos os anos escritores ao redor do mundo tentam recriar a magia dos contos de fadas, seja por inspiração aliada ao talento ou simplesmente pelo desejo de reconhecimento, de mostrar a que veio. Entra ano e sai ano surgem novas narrativas que inspiram a humanidade a praticar o bem, ou provar que o feijão com arroz é mais importante do que um Big Mac e que ser feliz de bicicleta é melhor do que aparentar alegria a bordo de um Camaro Amarelo.
Como é de se imaginar,
não é sempre que esse castelo de fantasia pré-fabricado alcança o coração das
pessoas e muitas vezes a culpa não é mesmo do autor; pode ser uma jogada do
destino, questões de lugar e do momento, ou simplesmente pode ser que não era mesmo
para (aconte)ser. Quantas histórias de amor – ou de terror - nunca foram publicadas?
Quantas boas canções nunca foram gravadas? E quantas destas apostas foram feitas
para dar em nada?
Em certas ocasiões a realidade
se reveste de uma fantasia poética tão inacreditável que o conto de fadas mais fantástico
não seria capaz de alcançar. É o que acontece com o filme “Procurando Sugar Man”,
vencedor na categoria documentário do Oscar 2013. É também o tipo de filme do
qual se deve evitar o acesso a qualquer informação antes de assistir, não que a
leitura de uma sinopse vá estragar as surpresas que são muitas, mas porque estas
potencializam a diversão.
No mundo do
entretenimento a surpresa é um dos segredos para o sucesso, ainda que, como
dito no início, não exista regra segura aplicável para este acontecer. Eis uma
das principais questões que perpassam esta história original e muito bem
contada. Para além desta onda de fama e reconhecimento de talento vem também a
atitude do artista com relação a tudo isso, de viver sobre uma base estável de
maneira que venha sucesso ou fracasso a vida continua. Quantos deixaram o mundo
cruel porque não seguraram essa barra?
A história contada em
Procurando Sugar Man se reveste de magia e profundo sentimento quando mergulha
indiretamente nesse viés da aceitação e da humildade, como a vida dos monges e
dos santos. Talvez por isso também em vários momentos se pareça com um conto de
fadas, porque nos remete a valores morais tão sólidos e íntegros que nos dias
de hoje parecem simplesmente fantasia.
Eu queria escrever um
texto que inspirasse as pessoas a assistir essa história sem dizer direito
sobre o que ela fala, porque muitas vezes é preciso ter fé em uma ideia, um
conceito e não na segurança fria dos fatos concretos (cold facts), de uma
informação objetiva. Vem de nossa intuição, de nossa relação invisível com o
mundo, vem do desejo de transcender e nada disso se traduz com palavras.
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