Ganhei um livro maravilhoso publicado pelo Arquivo Público Estadual, o Instituto Modus Vivendi e a Secretaria de Estado da Cultura. (Aliás, quero anunciar que no início da semana assumi a assessoria de comunicação do IMV). O livro é de autoria do Doutor em história Renzo Grosselli e se chama Colônias Imperiais na Terra do Café. Conta a saga de camponeses trentinos (vênetos e lombardos) nas florestas brasileiras. Sou apaixonado por livros, essa foi uma das razões que me fizeram decidir cursar biblioteconomia e acho que falar deles é a melhor maneira de contribuir com as campanhas de incentivo à leitura. Fiquei feliz com o presente que tem como epígrafe um verso sensacional que há alguns dias eu estava buscando oportunidade para usar:
Eis que dos meus versos
Sobre emplastadas intrigas de salões
Esguichou a urina da égua campesina.
Não vos agrada, não é verdade? Compreende-se...
Para pessoas afeitas ao orégano e às rosas...
Mas o pão que vós comeis
Sim, nós o adubamos com estrume!
Sergei Esenin - trad. de Agostino Lazzaro
Não vi ninguém da imprensa local noticiando, nem achei nenhum blog daqui comentando o caso, mas ontem me disseram que a lenda do basquete, Oscar Schmidt, teria arrumado um barraco com um mestre de cerimônias local, durante sua palestra no evento de abertura da 23ª edição da Feira da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps). Não tem graça, mas o nome da palestra que o nosso querido “mão santa” apresentou virou piada pronta: “Desafios: Como aprender a lidar com problemas”.
Atuo profissionalmente como Mestre de Cerimônias em solenidades formais faz alguns anos, conheço vários dos meus companheiros de profissão, mas se tem um que eu gosto e por quem tenho grande admiração é Eduardo Santos. Talvez o de mais idade e a mais tempo nessa seara, Eduardo é o de maior experiência e disparadamente o mais solicitado da classe. Tenho-o como um verdadeiro gentleman, uma pessoa de sorriso honesto, um cara do bem.
Uma vez Eduardo me disse que seu sonho era ser ator e, enquanto a carreira não deslanchava, acabou aceitando diversos trabalhos, inclusive como mestre de cerimônias, o qual exerce até hoje com merecido sucesso. Essas acomodações são comuns na vida, às vezes é preciso nos perder de nossos sonhos para vivê-los no mundo real. Dizem que o ator Johnny Depp sonhava ser roqueiro e, da mesma maneira, enquanto a carreira não decolava foi fazendo filmes, deu no que deu. Eu sonhava em ser super-herói, infelizmente meus poderes nunca se manifestaram, fiquei ilhado em Vitória e tive que me contentar em escrever mensagens dentro de garrafas blogs espalhadas pelo oceano Internético.
Existe uma reclamação geral de quem organiza eventos com relação à dificuldade de se lidar com o ego das pessoas. Dizem que o maestro Quincy Jones, quando foi produzir a gravação da canção We Are The World, com todo aquele grupo de celebridades, colocou um aviso bem grande na porta do estúdio: Deixe seu ego do lado de fora! Conheço muuuita gente que gostaria de poder fazer uma plaquinha dessas e colocar em nossas ocasiões solenes. Existem muitas “autoridades” aparentemente calmas e centradas que na hora de um evento ficam pra lá de estressadas e inventam problema onde não tem, querem quebrar protocolo passando por cima de outros e não se furtam de falar duramente ou criticar publicamente A ou B. Custava ser um pouco mais elegante e relax como aparentam?
O que me disseram da abertura da ACAPS foi que, durante a palestra do Oscar, o mestre de cerimônias - pela descrição me pareceu ser Eduardo Santos - estava conversando com alguém (nessas cerimônias toda hora vem alguém buzinar alguma coisa) e o basqueteiro achou ruim. Parou sua fala, esbravejou no microfone e ainda teria pontuado assim: “É por isso que eu não gosto de vir nesse tipo de evento!” Não sei dizer para vocês o que eu teria feito nessa situação, talvez cavar um buraco para me enterrar. Essa minha amiga disse que deveria haver algum seguro profissional para esse tipo de situação, mas que o mestre de cerimônias foi educado e hábil ao contornar o problema e no final ainda pediu aplausos para nosso tradicional “mão insana”. Ops! – como diria Emily – saiu sem querer.
É claro que não devemos julgar uma pessoa apenas por um fato isolado, é bem provável que o maior ídolo do basquete nacional não estivesse num bom dia. Tive a oportunidade de almoçar com Oscar faz alguns anos e durante todo o tempo ele foi de uma simpatia e de uma simplicidade encantadora. Pra falar a verdade duas coisas chamavam a atenção nele: uma era a altura, óbvio, o cara parece uma árvore de tão grande; a outra era o costume de pontuar suas frases com sonoros palavrões, coisa que adorei, me lembrou a época em que convivia mais estreitamente com meus amigos roqueiros, porém, na mesa estava também uma autoridade evangélica que quase caia da cadeira a cada “puta que pariu” ou “num sei que é do caralho” que o gigante alegremente proferia.
Toda profissão tem seu risco, mas certas situações podiam ser evitadas. Não quer respeitar o profissional, leve então em consideração um homem honesto, em sua melhor idade, que não merece ser desrespeitado perante as maiores autoridades de seu Estado. Pelo que entendi desse episódio, a saia justa poderia ter acontecido com qualquer um, se fosse comigo eu ficaria uma semana sem dormir, a cabeça remoendo os acontecimentos. Na verdade eu fiquei assim. Acordei no meio da noite pensando nesse assunto, de manhã já estava formatando o texto na cabeça e desde então o estou aqui escrevendo para me solidarizar com esse colega de profissão e para exorcizar essa questão.
Oscar: passei várias noites torcendo por você naquele timásso da seleção brasileira de basquete que tinha o Carioca, Marcel e companhia. Lembro bem que a narração era do Luciano do Vale e que depois foi pra Band abrindo caminho para Galvão Bueno. Hoje, eu torço por melhores dias: pra você companheiro, pra mim e para o Brasil. Que o mijo da égua campesina, o suor do nosso rosto, traga a igualdade entre as classes e a justiça. Porque de humilhações e achaques dos que estão acostumados ao perfume das rosas nós já estamos por aqui!
2 comentários:
Aplausos!!! Gosto do "gosto" de ficar sem palavras ao ler um texto. Isso para mim significa o quanto este é bom.
Parabéns por divulgar a publicação de um livro, qualquer escritor que passou pela experiência da publicação, sabe o quanto é difícil o trajeto, mesmo os de nome renomado.
A poesia é belíssima.
E sua coragem em trazer um "bafão" como esse é incrível. Isso me daria frio na barriga.
Contudo, você o fez magnificamente.
Te espero no "Palavras ao Vento"
Um pouco de poesia e vida, que o vento vem trazendo para mim!
Abraços da conterrânea
Logo o 69?! Não, não é piada pronta mesmo!
Mas sinta-se orgulhoso por este número! Se este te traz prazer! rsrs
Abraços
Silvana Pedrini
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