Minha relação com o pessoal de Santa Leopoldina começou com uma escolha errada que me valeu uma baita gozação e depois com uma piada que eu juro que foi verdade, aliás: “nóis temu testemunha”. Pensei que aquela coisa inamistosa fosse um sinal de desprezo, de repúdio ao “pessoal bobo da cidade”. Agora não sei mais, talvez o buraco seja mais embaixo. O problema da vida é que a gente repensa as coisas de tempos em tempos. Por exemplo: há uns dez anos eu detestava ter que ir a supermercado fazer compras, hoje não faz mais tanta diferença, apesar de conviver com a absurda realidade dos próprios não fornecerem embalagens para os produtos que vendem.
A cidade que falo hoje conheceu um veloz desenvolvimento sob a alcunha de Cachoeiro de Santa Leopoldina, - segundo eu sei-lá-quem - chegou até a causar o sobrenome da capital secreta do universo que precisou explicitar ser “do Itapemirim” a título de desambiguação. Tinha lá o famoso Porto do Cachoeiro que escoava a produção agrícola da região serrana para a capital e o café estava bombando, logo se tornou a base da economia capixaba. O pior é que isso daria origem à famosa “cotação do café” que até hoje é insistentemente apresentada nos televisivos locais, apesar da maioria da força de trabalho do Estado estar no setor público.
Uma incrível versão hídrica da cegonha no rio Santa Maria. |
Como se isso tudo não bastasse, Santa Leopoldina foi palco do livro “Canaã” de Graça Aranha, provavelmente a mais importante obra literária que tem o solo do Espírito Santo como cenário e de quebra ainda teve uma ótema (sic) versão cinematográfica dirigida e interpretada em 1973 pelo saudoso (?) Jece Valadão. Por isso tudo e algo mais era de se imaginar que o Leopoldinense se achasse, mais ou menos, como hoje o pessoal da Barra do Jucu. Não deve ter sido fácil para seus habitantes conviver com as histórias de grandeza e da posterior derrocada da economia; de toda aquela opulência e riqueza os nascidos em meados do século passado em diante apenas ouviram falar.
O que talvez explique aquilo que nos aconteceu...
Foi no feriadão de sete de setembro no ano passado, estávamos indo visitar meu amigo/irmão Danny Boy em Santa Maria de Jetibá, cidade que eu mal conhecia até então. Íamos por Cariacica, atravessamos Santa Leopoldina até chegar no que eu suponho que fosse o final da cidade. De lá podíamos seguir reto, mas tinha também uma quebrada à direita com ponte e algo mais, o que não tinha mesmo era a porcaria da sinalização. Como não éramos obrigados a saber que rumo certo tomar, resolvemos parar para perguntar a dois caras que estavam em pé conversando na esquina:
- Bom dia amigos. Pra gente ir pra Santa Maria é só seguir reto? - O cara, meio alemão/mezzo maracachonga, respondeu num tom que oscilava entre a chacota e a reprovação pela bobagem que eu estava dizendo:
- Não é não seu moço: tem que fazer as curvas né!?
4 comentários:
Muito bom !!!
É de rolar de rir.... tão óbvio, tão besta e tamanho descaramento do sujeito....ora bolas...
abraço
marcos valério
Sensacional Juca,,,,rsrsr....Uma exlente aula de história de nossa terra, coisa que gosto muito....E também o final é de rsrsrsr muito.....
Abs Mario
E ele não estava certo? HÁ QUE SE FAZER AS CURVAS!!!!
Jandyra
Meu caro Juca,
Não fique zangado com o maracachonga, com o borocochô do leopoldinense, que na sua simplicidade lhe deu uma resposta, como dizia nossos avós, curta e grossa, mas, com a naturalidade que lhe convinha naquele exato momento.
Grande abraço amigo, e ótimo finde.
Paulo Angelo
Postar um comentário